Haverá Vida para lá da Vida?

Num momento da minha vida em que tudo se questiona e nada do que era continua a ser, surge este espaço no qual tenciono partilhar com quem por aqui passar um pouco das minhas duvidas, dos meus pensamentos e ideias, esperando que os vossos comentários me ajudem a reencontrar o meu caminho e que os meus pensamentos vos ajudem no vosso... Espero vêr-vos por aqui, neste limbo virtual da vida...

21.10.04

Chuva (realidades)

Era uma vez. Não há tanto tempo assim.
A água escorre pela cara, a roupa cola-se ao corpo magro enregelado.
O pescoço está enterrado na gola de um casaco de couro, velho.
Pára na ombreira de uma papelaria enquanto conta as moedas que tira do bolso.
Uma madeixa do cabelo cai para a cara, fazendo um fio de água escorrer para a boca.
Atravessa a rua e entra num café. É o meio da tarde e há em quase todas as mesas universitários a estudar.
O ambiente é pesado, muito tabaco concentrado numa sala fechada.
As mesas são pequenas, redondas, velhas.
Do lado esquerdo está o balcão, em madeira suja com tampo de metal baço. Uma mulher baixinha e redonda, com um ar tão gasto que parece mais uma peça do estabelecimento.
Dirige-se a uma mesa no canto direito, ao lado da porta.Pede um café.Enquanto mexe o açúcar lê os arabescos desenhados na mesa.
Tira do bolso uma caneta e escreve num guardanapo:

“Não foi assim há tanto tempo.
Disseste que me amavas.
Eu acreditei.
Quando se ama acredita-se sempre. Porque se quer ou porque se tem de acreditar.
Acreditei de todas as vezes que o disseste.
Nada tinha importância depois de o dizeres pois toda a minha existência é a espera do momento em que volte a ouvir essas palavras da tua boca.

Vi-vos.
Iam juntos.
Com aquela intimidade de quem conhece cada pedaço do corpo do outro, aquele à vontade de se poder tocar em qualquer parte, pois é tudo nosso.
MEU.

Fiquei sem saber como reagir.
Segui-vos.
Segui-vos durante quinze minutos.
Seguravas no guarda-chuva.
Desisti daquela cena quando o frio começou a ser tanto que me fez sair do torpor em que caíra.
Desisti de qualquer cena.
Não tenho direitos sobre ti.
Nunca tive.
Eras sempre tu quem vencia.
Quando eu não queria, ficava.
Tu ias.
As festas com os teus amigos, as idas aos cafés, os encontros marcados comigo a que faltavas.
Quando se ama acredita-se sempre.
Nunca fui capaz de duvidar.
Duvidar seria morrer aos pouquinhos.

Morri.
Há uma hora que morri.
Ter a certeza é morrer.
Não vou chorar. Isso cabe aos outros. Um morto nunca chora por si. Deixa-se meter no caixão; ser enterrado.
Os outros que chorem.
Morrer. Cada milímetro de carne em mim está em agonia.
Grita de dor. Eu morri mas a minha carne não o sabe.
Inflige-me o maior sofrimento que já alguma vez senti.

Eu MORRI!
A minha carne não sabe.
A dor rasga-me a alma, tenta arrastar-me de volta à vida.
Um morto não sofre.
Não sente nada.
Mas eu sinto.

porque eu amo-te !? ”

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Lembra-te! Esqueceste por certo. No exacto mmt em k o espermatozoide fecunda o óvulo e começa a construção e a caminhada de um novo ser, nesse exacto micro-segundo, começa a morte.Ao longo da vida física vive-se e morre-se, em cada dia. O sono é a morte mais corrente e a + benéfica. Ao longo dos dias podemos sofrer mil mortes, umas + dolorosas. Então esquecemos k o sentido é o de RE-NASCER.Doi, e continuará a doer, enqt só pensamos na dor, ou deixamos k pense por nós.Qnd lembrar-mos k ambas são um mmt do ciclo de cresci/libertamo-nos de ambas. como o MEDO! Lembras a frase sobre o medo k há anos te dei?
E, por + k digam, antes de sermos capazes de amar o outro temos k nos amar a nós pp. N/ é egoísmo - faz parte da nossa condição humana.
Diz: "Continuo a amar-me".
Bj doce ;-))

8:16 da tarde  

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